Um ritmo de trabalho extremamente duro, uma constante pressão para alcançar objetivos e a desvalorização de eventuais lesões laborais são os fatores apontados por alguns trabalhadores da Tesla (TSLA) para justificar a sua desilusão com a empresa liderada por Elon Musk, segundo um artigo publicado pelo The Guardian.
O empresário empreendeu a remodelação e modernização de uma antiga fábrica automóvel, comprada pela Tesla em Fremont, na Califórnia, para o fabrico de carros elétricos que pudessem renovar a atual indústria automóvel e ajudar a criar um futuro energético sustentável, com meios de transporte movidos a energia limpa. Contudo, a proposta de objetivos demasiado ambiciosos pode ter estado na origem do desgaste e lesões de alguns trabalhadores. “Consegues ultrapassar a Segunda-feira. Consegues ultrapassar a Terça-feira. Na Quarta já começas a sentir algo. Na Quinta é dor. Na Sexta, agonia. No sábado só tentas chegar ao fim do dia”, descreve Michael Sanchez, afetado por lesões no pescoço e atualmente de baixa médica. Desde 2014, foram chamadas à fábrica mais de cem ambulâncias para atender trabalhadores que experimentaram desmaios, tonturas, ataques cardíacos, alterações respiratórias e dores no peito. Outras centenas terão sido chamadas para socorrer trabalhadores com lesões e outras condições médicas.
Representantes da Tesla admitem que, nos primeiros anos de operações da fábrica (entre 2013 e 2016), o índice de incidentes registados, uma medida oficial de doenças e lesões no local de trabalho, estava acima da média da indústria. Contudo, essa informação “não reflete a forma como a fábrica trabalha hoje em dia” e, segundo os dados mais recentes, a sua performance ao nível da segurança no trabalho nos primeiros meses de 2017 supera em 32% a média da indústria. Para esta melhoria foram potencialmente decisivas medidas como a implementação de um terceiro turno de trabalho, a contratação de uma equipa especializada em ergonomia e melhorias nas “equipas de segurança” da fábrica. Desde Outubro de 2016, a empresa conseguiu também diminuir em 50% as horas extraordinárias, uma das queixas mais frequentemente apontadas pelos trabalhadores, que desempenhavam, em média, turnos de 12 horas, 6 dias por semana.
Elon Musk reconhece que as condições de sobrecarga de trabalho físico pudessem estar a pesar sobre os seus cerca de 10.000 trabalhadores, ainda que admita que a conjuntura levou a este cenário, ao serem uma “empresa que perde dinheiro”. “Esta não é uma situação qualquer em que, por exemplo, somos só capitalistas gananciosos que decidem economizar em segurança de modo a obter mais lucros e dividendos e esse tipo de coisa. É só uma questão de quanto dinheiro perdemos. E de como sobrevivemos? Como é que não morremos e fazemos toda a gente perder os seus trabalhos?”, acrescenta Musk.
O certo é que a fábrica da Tesla tem conseguido aumentar o seu ritmo de produção todos os trimestres. Nos primeiros três meses de 2017, produziu 25.000 veículos e Elon Musk anunciou já que em 2018 a sua empresa irá produzir mais 500.000 carros elétricos, o que supõe um aumento de 495% relativamente a 2016 e representa o quíntuplo do produzido em 2017 (atendendo aos valores do primeiro trimestre).
Jim Chanos, um dos principais críticos da Tesla e gestor do hedge fund da Kynikos Associates, continua a apostar contra a empresa ao considerar que esta necessita melhorar a sua posição de fluxo de caixa e a sua orientação. Critica em particular a aquisição da SolarCity (SCTY), um dos principais fornecedores de energia solar nos Estados Unidos da América. Para a Tesla, esta fusão permitirá oferecer mais facilmente um pacote de serviços, desde carros elétricos a baterias solares para uso doméstico. Chanos acredita, no entanto, que a fusão levanta problemas de gestão e que o modelo de negócio da SolarCity não é económico, prevendo que ambas as empresas terão que recorrer constantemente ao mercado de capitais. Também a Goldman Sachs refere que esta aquisição “surge num momento em que pensamos que a Tesla deveria estar unicamente focada em tornar-se num grande fabricante automóvel”.
Já Elon Musk ignora os seus críticos e continua otimista sobre o stock da Tesla. Em Abril, após a apresentação dos resultados da fábrica durante o primeiro trimestre de 2017, chegou mesmo a alertar os seus investidores que “seria imprudente” vender o stock. Coincidentemente ou não, o valor deste subiu após estas declarações. Em 2017, aqueles que apostaram contra a Tesla sofreram já perdas de 27%, o equivalente a 2.25 biliões de dólares, segundo a S3 Partners, uma empresa de análise financeira.
Os mercados aguardam agora o tão esperado lançamento do Tesla Model 3, um sedan premium elétrico, a preço acessível.