A escassos 7 meses do final, Warren Buffett é já considerado o vencedor da aposta milionária que opôs o diretor da Berkshire Hathaway Inc. e a Protégé Partners. Em questão está a ideia defendida por Buffett de que, se observarmos um investimento por um período determinado de anos, este tenderá a obter maiores rendimentos se aplicado num fundo de índice em oposição a um investimento num conjunto de hedge funds, que acarretam custos acrescidos de consultadoria e gestão.
Mas o desafio lançado pelo Oráculo de Omaha não teve resposta fácil. Apenas um homem, Ted Seides, gestor da Protégé Partners, aceitou apostar 500 mil dólares contra os 500 mil de Buffett, iniciando em 2008 a que ficou conhecida como a aposta de um milhão de dólares. O objetivo era criar um fundo de fundos que pudesse competir durante 10 anos com o fundo de índice de Buffett. Para tal escolheu cinco fundos e estes investiram por sua vez em mais de 100 hedge funds distintos, de modo a mitigar possíveis distorções do desempenho geral derivadas de resultados medíocres de gestores individuais. Já Buffett optou por um fundo barato a replicar o S&P 500 (VFIAX), que não exigiria grande manutenção nem as elevadas comissões cobradas pelos gestores dos hedge funds.
Como resultado, e apesar de um início especialmente duro para o fundo de índice, mais vulnerável a crises dos mercados como a de 2008, com perdas de 37% face a 23,9% dos hedge funds, aquele conseguiu obter uma taxa composta anual de 7,1%, face a uma média de apenas 2,2% obtidos pelo fundo de fundos nos mesmos primeiros 9 anos da aposta. Segundo Buffett, “isto significa que 1 milhão de dólares investidos nesses fundos teriam rendido 220 mil dólares. Enquanto isso, o fundo de índice teria ganho 854 mil dólares”.
Buffett atribui a responsabilidade destes resultados às comissões exorbitantes cobradas pelos gestores dos hedge funds, sobretudo quando não estão legitimadas pelo desempenho. A norma na indústria é o chamado esquema 2 e 20, isto é, a cobrança anual de uma taxa de administração de 2% do valor do fundo, acrescida de 20% do total de lucros obtidos, independentemente do seu bom ou mau desempenho. O que neste caso agrava-se pela existência de dois níveis de gestão e pela consequente cobrança de cerca de 1% adicionais por parte dos cinco gestores de topo do fundo de Seides. “Ou, como Gordon Gekko poderia dizer: ‘As comissões nunca dormem'”.
Mas esta pode não ser a história completa. Recentemente, Ted Seides veio a público admitir a sua derrota nesta aposta mas também defender a abordagem ativa de gestão dos hedge funds frente à gestão passiva de baixo custo advogada por Warren Buffett. No texto, publicado há poucos dias no Bloomberg, Seides explica que o comportamento do S&P 500 superou as expectativas de lucro contra a maior probabilidade que teria inicialmente de produzir baixos rendimentos nesse período, devido ao seu elevado preço à partida. Por outro lado, refere que o S&P 500 não é totalmente representativo do mercado, se comparado com outros fundos de investimento passivo, já que tende a concentrar-se nos maiores mercados de ações dos Estados Unidos, por oposição a mercados globais e a pequenas empresas.
Admite também que a comparação entre fundos de índice e hedge funds seja complicada, uma vez que os últimos têm um maior universo disponível para investimento; de facto, para Seides, mais que as comissões, foi esta diversificação que prejudicou o seu fundo de fundos. A ausência de uma queda significativa dos mercados, um risco que poderia traduzir-se em perdas para fundo de índice, também permitiu a seu melhor desempenho relativo. Ted Seides acredita que o S&P 500 se encontra sobrevalorizado e que, a longo prazo, corre o risco de desapontar os seus investidores. Mais ainda, e apesar dos resultados, continua a acreditar na supremacia do investimento em hedge funds: “se [os jogadores] jogam uma só mão, qualquer coisa pode acontecer. O jogador com as melhores cartas pode até perder, mesmo se ‘devesse’ ganhar”.
Se as declarações de Seides são ou não o prenúncio de uma segunda ronda da aposta, só o tempo o dirá. De momento parece ser que os ganhos desta aposta estão mesmo destinados à Girls Incorporated of Omaha, a associação de caridade designada por Buffett como beneficiária, caso fosse ele o vencedor da contenda.